O Papão Livro
de Pablo Albo; Ilustração: Maurizio A. C. Quarello
Sobre
o LivroA avó decide preparar às suas três netas uma surpresa na adega: pão com mel. (Tinha-se esquecido de que essa era precisamente a comida preferida do papão.) As netas, uma a uma, desceram pelas escadas escuras, frias e misteriosas; empurraram a porta e…
O Bicho-Papão é um "come-crianças", figura tradicional e popular em Portugal. As características comuns, apesar das variantes segundo a zona geográfica, figuram o gigante, a cabeça desmesurada, o aspecto brutal e a grande voracidade, comendo as crianças sem as mastigar. É diferente de outros monstros que actuam sem avisar - o Papão adverte sobre as suas intenções e avisa da sua voracidade natural a quem ousa avistá-lo - mas quem se atreve a aproximar-se dos lugares que frequenta, é comido sem pestanejar.
O insólito herói que resolve a situação é, em todas as versões deste conto, a pequena formiga, presente também como herói noutros contos tradicionais de estrutura narrativa similar. A versão de Pablo Albo ajusta-se em boa medida à tradicional, mas é tratada com humor e tem um desenlace afectivo e divertido.
Se no conto recolhido por Aurelio Espinosa (tal como noutras versões paralelas recolhidas em Espanha no início do século passado) o herói mata o monstro, Pablo Albo opta por uma divertida transformação simbólica do gigante, que acaba por integrar-se no mundo representado pelo herói. Deste modo, o bem triunfa sobre o mal, graças à intervenção solidária de diferentes personagens com quem se identificará o leitor.
Os papões correspondentes noutros lugares da Península, possuem igualmente uma etimologia transparente: «O Papón» na Galiza, «El Papú» na Catalunha… todos eles sobreviveram até aos nossos dias na nossa memória e se foram utilizando muitas vezes com carácter funcional e em missões pontuais junto das crianças: portar-se bem, ir para a cama, não sair à noite, não se aproximar de desconhecidos…
A imaginação conjugada com a necessidade de prevenir estes actos criou, dentro da cultura popular, figuras assustadoras que se foram transmitindo oralmente através dos séculos.