O Humor de Misha

[...]e noutros países socialistas: tendências que testemunham de um retrocesso cultural, que é também ideológico e político; de como a nova cultura, os novos valores, que deveriam acompanhar as restantes mudanças, foram perdendo legitimidade no plano individual, e acabaram por se tornar "exteriores" e "alheios"; de como, em algumas dessas sociedades, esta nova cultura nunca terá chegado a ser corpo e alma daqueles que a deveriam assumir, interiorizar e protagonizar na sua permanente reelaboração e reprodução; de como, onde chegou a ser viva e consistente, algo rapidamente se quebrou, e os consensos se foram degradando entre erros e deformações de toda a índole, e restou uma "cultura" falsa, sem raízes, cada vez mais divorciada da experiência e dos sentimentos da maioria. (…) A anedota política do "socialismo real", nas suas principais tendências, corresponde a uma crónica, plena de lições e ensinamentos, do processo de "inversão institucional" que se produziu, sem dúvida, no seio daquelas sociedades, e das suas consequências no íntimo das pessoas. Os ideais socialistas não chegaram a converter-se, de forma irreversível, numa "nova condição intelectual e moral"; a "internacionalização" dos novos valores, dos símbolos do socialismo, foi parcial e reversível; o "significado" global fragmentou-se, e abriu-se terreno propício à acção de falsificadores, oportunistas e traidores, e a que ganhasse espaço determinante a concepção capitalista de consumo.