Na Terra do Sentimento

"Nasci em casa, com parteira da terra, nas Minas da Bejanca, hoje uma ruína da Arqueologia Industrial do tempo da Segunda Guerra Mundial, mas cresci em Caria, uma aldeia, ali mesmo ao lado, do concelho de Vouzela, na Beira Alta. São lugares minúsculos que pontuam um cenário imenso, verde e serrano de dia, iluminado de noite por um firmamento baixo de estrelas e de luar. Era o dia 13 de Janeiro de 1943. Não seríamos mais de 100 habitantes naquela aldeia. Todos pobres ou remediados. O meu pai era serralheiro mecânico nas Minas da Bejanca e a minha mãe dona de casa e artesã de vários ofícios. Aos meus pais devo o amor generoso que uma criança tanto aprecia e, àquele lugar, a liberdade inocente e o espaço, que tanto escasseia nas cidades. Saí cedo de Caria, tinha 10 anos. Estudei com padres num seminário até concluir o ensino secundário. Aos 18 emigrei, fui para Salamanca em Espanha onde fiz o curso de Filosofia e Letras, ramo de Ciências da Educação, na Universidade Pontifícia. Emigrei de novo em 65 para Paris, onde vivi até Maio de 68. Frequentei Psicologia na Sorbonne e fui professor no Liceu Espanhol de Paris. regressei a Espanha, onde vivi, em Madrid, até 1978. Aqui concluí o curso de Psicologia na Universidade Complutense, casei com a companheira com quem vivo há 41 anos, Renate Wiese, com quem tive três filhos maravilhosos Daniel, Sílvia e Andreas. Dois netos, Hugo e Lara, são os últimos recém-chegados ao clã familiar. Desde 1978 vivo em Lisboa. Poesia e trabalho, trabalho e poesia. Prestei serviços como psicólogo e como consultor a milhares de pessoas, tanto em espanha como em Portugal, mas a poesia acompanhou-me sempre como ferramenta metafísica e como meio de transporte para outras galáxias. Na vida oficial, a poesia foi uma actividade clandestina, conventual, um lugar preservado, de completa irresponsabilidade. Aparte algumas escapadelas em jornais de província, na revista de poesia Álamo de Salamanca nos anos 70 e nos Cadernos de Literatura de Coimbra nos anos 80. Até hoje, que decidi sair da clandestinidade com este livro para partilhar com o leitor a minha interpretação da vida e dos seus recantos, das suas grandezas e da sua insignificância." António Rocha.