Morte Água

editor: Campo das Letras, abril de 1999
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"Mentimos sempre sobre o tempo passado. Aqui, junto ao rio, bebo numa esplanada uma água fria e contemplo as aves. É falso. Mal chego a olhá-las, elas chegam e partem meticulosas, luxuosas, e a ilusão da imobilidade, a brisa leve, a luz que me humedece os olhos deixam-me a convicção de que as vi. Elas estiveram ali, decerto ainda estão.
Se eu disser ‘esse, que tomas as palavras, ou que é tomado por elas, não sou eu’, estou a afirmar um facto de fácil demonstração.
Tenho desses dias distantes uma impressão que resiste, que é um vinco. Não posso chamar-lhe decepção. Talvez enfado, o enfado estranhamente mesclado à furtiva culpa da sua persistência, da sua duração. Agora vou beber água e bebo.
Lembro sol e pó. Foi num Junho inclemente que realizei a maior parte da investigação. Estou sentado num pequeno muro a desmoronar-se, tirei uma laranja da árvore a que me acolhi e espero impaciente que me abram mais uma porta, depois de ter percorrido os antigos caminhos.
Lembro as cigarras.
Demorarão a abrir-me a porta. Uns olhos brilham no interior de sombra, mas é-me impossível saber a quem pertenciam. Talvez fossem de uma mulher. Uma mulher precocemente envelhecida?"

"Mentimos sempre sobre o tempo passado. Aqui, junto ao rio, bebo numa esplanada uma água fria e contemplo as aves. É falso. Mal chego a olhá-las, elas chegam e partem meticulosas, luxuosas, e a ilusão da imobilidade, a brisa leve, a luz que me humedece os olhos deixam-me a convicção de que as vi. Elas estiveram ali, decerto ainda estão.
Se eu disser ‘esse, que tomas as palavras, ou que é tomado por elas, não sou eu’, estou a afirmar um facto de fácil demonstração.
Tenho desses dias distantes uma impressão que resiste, que é um vinco. Não posso chamar-lhe decepção. Talvez enfado, o enfado estranhamente mesclado à furtiva culpa da sua persistência, da sua duração. Agora vou beber água e bebo.
Lembro sol e pó. Foi num Junho inclemente que realizei a maior parte da investigação. Estou sentado num pequeno muro a desmoronar-se, tirei uma laranja da árvore a que me acolhi e espero impaciente que me abram mais uma porta, depois de ter percorrido os antigos caminhos.
Lembro as cigarras.
Demorarão a abrir-me a porta. Uns olhos brilham no interior de sombra, mas é-me impossível saber a quem pertenciam. Talvez fossem de uma mulher. Uma mulher precocemente envelhecida?"

Morte Água

Propriedade Descrição
ISBN: 5600001134190
Editor: Campo das Letras
Data de Lançamento: abril de 1999
Idioma: Português
Dimensões: 150 x 207 mm
Páginas: 84
Tipo de produto: Livro
Coleção: Instantes de Leitura
Classificação temática: Livros em Português > Literatura > Romance
EAN: 5600001134190
Idade Mínima Recomendada: Não aplicável
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