Lição ao Mestre

Na execução de um plano de resgate do injusto esquecimento de algumas obras significativas da ficção portuguesa do século XIX, em que se inscreveu a reedição das Memórias de um Doido (1846), de António Pedro Lopes de Mendonça (1826-1865), de Paulo, o Montanhês (1853), de Arnaldo Gama (1828-1869), de Eva (1869, de Santos Nazaré (1849-1879), de O Brasileiro Soares (1886), de Luís de Magalhães (1859-1935), e de Uma Eleição Perdida (1888), do Conde de Ficalho (1837-1903), publica-se agora a 3ª. edição do romance Lição ao Mestre, de António Augusto Teixeira de Vasconcelos (1816-1878). Publicado, inicialmente, em folhetins, editado depois, em dois volumes, em 1875, e objecto de uma 2ª. edição, em 1902, o presente romance constitui a quarta e última experiência novelesca do seu autor, precedida, anteriormente, de um romance de carácter picaresco, a História Verdadeira e Singela da Vida e Feitos Admiráveis do Muito Insigne e Astucioso Roberto Valença desde o Seu Nascimento até à sua Morte (1846), de O Prato de Arroz Doce (1863) e de A Ermida de Castromino (1870, romances de actualidade, ainda de recorte histórico, o primeiro, já entre romântico e realista, o segundo. Tendo como núcleo da sua intriga um acontecimento real, de que foram protagonistas antepassados do autor, Lição ao Mestre revela uma apreensão do real, sobretudo na sua primeira parte, que, como nota João Gaspar Simões, "permite colocá-lo entre as obras precursoras do realismo oitocentista". "Muito bem urdida e muito rica, quer em peripécias quer em caracteres, ao mesmo tempo reais e pitorescos, a história que aqui se nos conta é uma das mais conseguidas da nossa ficção oitocentista que medeia entre o romance histórico e o romance de actualidade", como observa o mesmo crítico no prefácio que escreveu para a presente edição.