Eduardo Souto de Moura. Conversas com Estudantes

«A ideia de organizar um encontro, na Faculdade de Arquitectura e Sociedade do Politécnico de Milão, entre Eduardo Souto de Moura e os estudantes demonstrou ser uma excelente ocasião para discutir com uma maior liberdade do que nas conferências tradicionais, os percursos que levam ao projecto. Os estudantes de arquitectura precisam das verdadeiras histórias das técnicas de projecto que frequentemente são omitidas em nome de uma lógica formal e cujos nexos parecem ser absolutamente necessários. Frequentemente é um hábil jogo entre as partes nas quais o projectista dissemina o seu traçado de múltiplos indícios escondidos entre afirmações axiomáticas ou escolhas aparentemente consequenciais e o ouvinte parece desejar uma evidente razão das eleições. Dificilmente o projectista conta as tentativas não conseguidas, dos percursos começados e não acabados, das elaborações pouco convincentes e dos acidentes casuais. Frequentemente o projectista, por uma espécie de pudor, não revela os reais mecanismos que o levaram a definir uma forma. As analogias, as associações, as referências são raramente expressas. Será o crítico a ter de voltar a percorrer o trajecto projectual, a reconstruir, frequentemente desviando-se da realidade ou distorcendo-a em função da sua própria ideologia, as raízes de uma ideia que são reveladas apenas por vários pequenos indícios.

A discussão com Eduardo Souto de Moura, deste ponto de vista, foi exemplar pela naturalidade com a qual contava as razões das suas escolhas. E os estudantes gostaram muito disso. A história da sua obsessão pelas janelas e a frescura com a qual enfrentou pela primeira vez o tema só porque 'agredido' pelo seu cliente, mostram a capacidade, mas também a vontade, de fugir do estereotipo que frequentemente tornam escravo um projectista da sua 'maneira'.

A sua capacidade de se renovar, deixando-se arrastar também pelas novas dificuldades, assinala uma maturidade que certamente é devida à sua formação e à sua história como arquitecto.

Do prólogo, Remo Dorigati (Subdirector do Departamento de Arquitectura e Planificação do Território (DiAP) do Politécnico de Milão)