E o Povo, Onde Está?

O contexto histórico em que esta obra se situa abrange o período dos fins do século XVIII ao termo de Oitocentos, passando pelas invasões francesas e pelas revoluções liberais em Portugal e Espanha, e seus desenvolvimentos sequentes. Mas com base numa análise rigorosa das fontes e em interpretações inovadoras dos factos, o autor remete-nos, afinal, para a formação e para o desenvolvimento da sociedade portuguesa contemporânea ¿ nos aspectos mental, sociocultural e económico ¿, contribuindo deste modo para uma melhor compreensão da nossa actualidade.

O assunto central desta obra prende-se com a Política Popular, analisando-se a génese, no povo, de uma consciência que vai superando os horizontes locais e as limitações da sociabilidade tradicional, e que vai integrando o local num sistema de relações progressivamente mais vasto da sociedade. Assume-se que a política popular não deverá ser definida a partir de conceitos actuais, do mesmo modo que o processo de aculturação não resulta do simples preenchimento de um vazio pela «política superior»; insere-se, pelo contrário, numa lenta aprendizagem da vida política pública, no quadro de novas formas de sociabilidade.
Empreende-se também uma reflexão acerca da tese segundo a qual "a contra-revolução em Portugal começou com as invasões francesas". Anunciado como "libertador dos povos contra os reis reaccionários", Napoleão, com efeito, acabou por desencadear um processo de revigoramento de forças contra-revolucionárias (em vias de enfraquecimento desde fins do séc. XVIII) que se prolongou mesmo para além das revoluções liberais.
Por fim, questionam-se as limitações que, desde o início da nossa contemporaneidade e a longo prazo, os processos reformistas liberais exerceram nas vias de desenvolvimento da sociedade portuguesa. Oliveira Martins, como Mouzinho da Silveira, de quem recebe influência, é um caso singular de consciência da necessidade de ruptura e da procura de uma visão de desenvolvimento sustentado e global.