Dom João na Sícilia

Giovanni Percolla, típico representante da província siciliana dos anos quarenta (e seguintes), passa a juventude obcecado pela ideia/pesadelo da mulher, vista como objecto de um prazer mais sonhado do que propriamente vivido. Chegado aos 40 anos e casando-se com Ninetta, não aguenta o choque do relacionamento com uma mulher real, que o obriga a confrontar-se com mundos diferentes (a grande cidade, o meio intelectual urbano), e reflui para a “sua” província, para a “sua” casa de solteiro, para os “seus” sonhos eróticos, que têm a enorme vantagem de não passarem de sonhos.

Ao publicar em 1941, numa Itália em plena guerra, este seu romance, Vitaliano Brancati erguia, como ninguém antes dele, um verdadeiro monumento literário ao gallismo (o machismo à italiana, em que a ligação à mãe é também característica predominante). Mas Brancati não se limita a retratá-lo, antes o coloca como explicação e metáfora de tantos dos erros e das vicissitudes que o fascismo de Mussolini produzira.