Cartas a Tâmara ou Os (Sobre)viventes
Sobre
o LivroSob um véu de poesia, o amor e a sensualidade transbordam ao correr destas páginas. De facto, mesmo quando são expostas as mais ousadas e íntimas sequências da liturgia erótica, o crescendo da entrega mútua até à apoteose da paixão saciada - é sempre uma sensibilidade delicada a bater-se pelas palavras que possam veicular e sublimar essa energia magmática que estua nas profundezas da natureza humana. Gisela é a personagem-paradigma em torno da qual giram o enredo e os valores que o substantivam; a grande amorosa que - partindo de um amor de perdição/perdição de um amor, na pessoa de Rodrigo, suicidado nos esconsos da droga - empreende uma travessia ascética e catártica até se envolver com Valter, um "humilhado e ofendido", abusado na infância por um tio pedófilo. Duas vítimas, afinal, da desagregação e da violência, na visão sofrida e desencantada de Gisela, cujos monólogos funcionam aqui, no nossa opinião, como a mais rica e sólida componente da trama narrativa. (...)
Estamos perante um livro irrepreensivelmente bem escrito e densamente enriquecido pelo conhecimento e intuição das sempre complexas e conflituosas relações interpessoais, sobretudo na esfera dos afectos.