Ano 2108 - O Despertar do Amanhã Livro
de Brito Figueiredo
Sobre
o LivroChegara aos sessenta anos, a idade em que todo e qualquer cidadão que se preze deverá dirigir-se, de moto próprio, ao local onde juntamente com outros aniversariantes, seguir o protocolo da igreja da vida eterna.
Os recursos do planeta chegaram ao limite. O número de biliões de humanos teria de ser reduzido drasticamente.
Chegou a Olga, a Olga, a nossa Olga. Mais uma vez foi recebida, com carinho, por aquela gente desgastada da vida sem sentido.
Tudo havia começado com a crise de 2008, em que ninguém percebeu ou não quis perceber os sinais da natureza que indicavam a necessidade de um outro rumo para o comportamento humano.
Mateus estava encantado com tudo o que via: homens, mulheres e crianças a acenderem velas toscas, colocarem-nas em altares improvisados com lajes e pedras que alguém retirara das ruínas dos edifícios onde durante muitos anos o povo rezou e fez pedidos ao seu Deus.
Alguém começou a falar num tom mais alto que o ruído das rezas:
- Nós somos a fé e por mais destroçada que esteja, continuaremos a ama-la, tanto como os nossos antepassados a amaram.
Calou-se por instantes para ganhar fôlego, já que a idade era muita. Apoiou-se no bordão e continuou:
QUALQUER DIA - famintos ao som de Wagner - cercaremos bases militares - desmontaremos rampas assassinas - arrancaremos galões de falso brilho - libertaremos soldados. QUALQUER DIA - dominaremos vulcões, o Sol, o vento e a força das marés - venceremos a gula dos desertos - voaremos pelo espaço como aves siderais. QUALQUER DIA…