A Saudade

Desde El-Rei D. Duarte que a saudade, enquanto sentimento, expressão e meditação, de finitude e horizonte cósmico, de sentido nostálgico e presença de futuro, de tempo e eternidade, de ser e de amor, embora de modo intermitente e descontínuo, tem sido objecto da reflexão filosófica portuguesa e, de modo muito particular, desde que Teixeira de Pascoaes e Leonardo Coimbra ampliaram e aprofundaram a meditação sobre o seu sentido ontológico e metafísico, movimento que, no último meio século, tem vindo a ser secundado, na Galiza e no Brasil, por pensadores como Ramón Piñeiro, Rof Carballo, Daniel Cortezon, Torres Queiruga ou Miguel Reale, numa diversidade de caminhos, nem sempre coincidentes, que tem revelado a pluralidade de perspectivas abertas pela consideração filosófica do sentimento saudoso.
É neste fecundo movimento de ideias que se insere este denso ensaio de Maria Teresa de Noronha, no qual, como nota no prefácio o Professor Doutor José Esteves Pereira, emerge um exercício dianoético em que se procede, entre outras análises, ao diálogo fecundo com o sentido do regresso ao ser da meditação heideggeriana, no horizonte de uma ontologia fundamental.
Assim, após situar e considerar o movimento saudosista surgi do dentro da Renascença Portuguesa, a autora demora a sua exigente reflexão na ontologia, na lógica, na fenomenologia e na estética da saudade, com um desenvolvimento e uma profundidade sem paralelo na reflexão que a antecedeu.