24/7 : Late Capitalism And The Ends Of Sleep

Segundo Jonathan Crary, autor de 24/7, o capitalismo ultraliberal entrou numa nova fase , a da insónia permanente. Já não se trata de trabalhar das oito, às cinco, como até aqui. O objectivo agora é trabalhar 24 horas por dia, sete dias por semana - 24/7, que dá título ao livro. O sono como momento privilegiado de descanso e sossego, até agora intocável, tornou-se no último reduto que falta controlar, para que a organização ultraliberal do trabalho tome o pleno domínio das nossas vidas. A importância estratégica do sono, argumenta o autor, é atestada pelas mais recentes investigações científicas do exército americano, sobre os ciclo de sono e vigília dos pardais de coroa branca. Estas aves migratórias, originárias do Canadá, viajam grandes distâncias durante a noite, sem que isso afecte a sua actividade durante o dia e sem sofrer os efeitos colaterais, que se verificam noutras espécies privadas de sono. O objectivo das investigações do exército americano, diz o autor, é descobrir o mecanismo biológico que controla o sono nos pardais de coroa branca e aplicá-lo aos soldados. O objectivo é criar guerreiros disponíveis 24 horas por dia, 7 dias por semana e, a partir daí, aplicar o mesmo resultado à esfera social e do trabalho. Em muitos aspectos, diz Jonathan Crary , já nos encontrámos no estádio final do capitalismo da insónia. Conectados e contactáveis 24 horas por dia, o tempo disponível de um trabalhador, mesmo o dedicado descanso nocturno, encontra-se, na sua quase totalidade, controlado pelos mecanismos de produção ultraliberal. A distinção entre dia e noite, tem-se vindo a esbater cada vez mais, sujeita a um ‘canibalismo do sono’ que a todos afecta. 24/7 é um livro importante para perceber a evolução do capitalismo ultraliberal e os processos de controlo do tempo, que lhe estão associados.