Argentina/78 – Uma Copa Do Mundo: Política, Popular E Polêmica eBook
de Alvaro Vicente G. Truppel P. Do Cabo
Sobre
o LivroPedi para entrevistar o ministro de esportes argentino.Não tinha a menor intenção em ouvi-lo.É preciso agora confessar que não passava de um vergonhoso golpe.O que eu precisava era entrar no prédio da Secretaría de Deporte, Educación Física y Recreación, o equivalente à pasta de esportes daqui. Chegar até a Avenida Miguel B. Sánchez 1050, enganar com algumas perguntas e botar em prática a última parte do plano: dar uma desculpa e conseguir autorização para ir ao teto do prédio.O prédio fica exatamente no meio do caminho entre o Monumental de Nuñez e a Esma (Escuela Superior de Mecánica de la Armada), o maior campo de concentração e genocídio das ditaduras do continente. Quatro décadas depois, tentar mostrar em imagem a aberração que foi tudo aquilo: enquanto se jogava uma final de Copa do Mundo, gente era torturada. Entre um e outro, 700 metros de distância.Impossível não perder a respiração ali quando se consegue estabelecer no raio do seu olhar a dimensão do absurdo.Pois ler este "Argentina 78: uma Copa do Mundo política, popular e polêmica" é um pouco como estar de novo no teto daquele prédio entre a Esma e o campo do River.Ler a obra de Alvaro do Cabo é, palavra por palavra, ter no olhar a dimensão do absurdo do que foi aquilo tudo.O rigor acadêmico de Alvaro aliado à narrativa digna de uma grande reportagem. Memória fundamental de um tempo para que "nunca más".Os pecados de sempre da imprensa, salvo as exceções de sempre, estão no que já é um dos livros mais relevantes sobre esse período.Expõe as exacerbadas "defesas da nação" presentes nas crônicas tanto aqui como lá. Que nos dão boas pistas para entendermos como chegamos até aqui: outros tempos, outros temas e a mesma imprensa cúmplice que outrora "não viu" os horrores das ditaduras e anos depois "não viu" o mar de lama que inundava a Fifa.Ler Alvaro do Cabo é mais do que nunca a expressão da velha definição do que é História: "conhecer o passado para entender o presente".Lúcio de CastroHistoriador e Jornalista